sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Alto do conhecimento

Depois de quase 19 anos de esforçadas e infinitas tentativas de auto-conhecimento, eu ainda consigo me surpreender com as oscilações e mudanças mais do que repentinas da minha vida. Em alguma essência oculta e invisível eu continuo sendo a mesma desde que eu me interessei em saber o que era ser eu mesma. Mas essa essência é tão imperceptível que nem eu sei qual é, só sei que ela existe. Vejam bem, não estou falando de uma alma ou qualquer outro tipo de misticismo. Meu existencialismo é tão frustrado que eu não consigo explicar as coisas inexplicáveis com deuses, almas e energias cósmicas. As coisas inexplicáveis não são para ser explicadas e os seres humanos não precisam inventar tantas especulações, teorias, mitos, contos de fadas e fábulas por causa dessa obsessão por querer saber de coisas que nós nunca iremos saber e nem fomos feitos para saber. Existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia, certo? Mas eu também não sou cética, sou empírica. Dispenso essa megalomania humana de querer racionalizar e explicar tudo. Não acredito que Deus existe porque eu nunca senti a existência dele, como os teístas dizem sentir. No dia que isso acontecer eu passo a acreditar sem precisar procurar razões lógicas que comprovem o que eu sei que sinto. Enquanto isso não acontece, prefiro ser devota do órgão sexual masculino (que metáfora ridícula, HUAHAUAHA!). Mas esse texto tá ficando muito metafísico e pouco existencialista.
Eu estava falando sobre a minha capacidade incrível de não ter uma personalidade definida e sobre como isso me assusta - ou assustava. Não foram nada raras as vezes que eu me irritei com essa forma instável que a minha vida escolheu para ser. De tão instável acabou se tornando previsível que tudo sempre terá um fim breve e a eternidade não combina comigo. Me irritava saber que as melhores fases da minha vida acabariam e, num paradoxo estúpido e pessimista, achar que as piores seriam eternas. Hoje eu sei que as piores não são eternas, ou melhor, que sequer existem essas piores. Existem as diferentes. As melhores não podem durar para sempre porque acabariam ficando entediantes - e elas ficam. O tédio, o puro tédio, é o pior dos infernos e é tão presente na minha vida quanto a minha própria sombra. As coisas perdem o encanto muito fácil e às vezes acontece de tudo ao meu redor perder o encanto de repente; e é quando isso acontece que eu me perco e o tédio vem ao meu encontro. Eu me torno um vazio tão grande quanto um buraco negro, jogando o encanto da vida para algum lugar perdido do universo e me fazendo enxergar a efemeridade de tudo. O tédio não passa de um intervalo que com a mesma velocidade que ele chega, ele vai embora e eu me encanto com algo novo. É com essa coleção de encantos que eu coleciono as minhas personalidades. Já foi desesperador pensar que com 18 anos eu ainda não tenho certeza de quem eu sou e nem do que eu quero ser. Sempre lia que é na adolescência que as pessoas formam a personalidade e, cá estou eu, com essa maldita adolescência acabando e eu sabendo me definir tão bem quanto sabia no começo da mesma. Mas uma hora eu parei para pensar no quão entediante deve ser ter uma personalidade formada, uma vida vetorial e estável, ser sempre o mesmo. E, com o meu já declarado ódio ao tédio, pude me sentir feliz ao olhar no espelho e não ver apenas uma ou duas personalidade mas dez, cem, mil e infinitas.
O alto do meu auto-conhecimento é saber que eu nunca vou me conhecer por completo.

(Interessante como eu mesma sou a minha psicóloga e esse blog é o meu divã.)

2 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Caralho, você escreve muito bem.