domingo, 20 de dezembro de 2009

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Um dia, há não muito tempo, eu tive uma espécie de alucinação em que eu acreditei que nada existia; que era tudo fruto da minha imaginação, reprodução da minha mente, meu subconsciente ou algo assim. Isso me trouxe uma sensação de tanta solidão que cheguei realmente bem perto da loucura. Desde então, tenho pensado sempre nisso que aconteceu e buscado significados. A solidão se tornou a resposta para quase tudo para mim. Logo ela, que sempre foi o meu pior medo. Protagonizou a minha vida inteira. Desde a minha primeira lembrança racional, eu tinha medo da solidão. Mas o problema era exatamente esse... Meu problema não era a solidão, e sim, o medo da solidão. Decidi enfrentar isso e o único jeito de enfrentar é vivendo isso. Não sei porquê eu tomei essa decisão. Não sei porque eu não posso ser mais uma dessas pessoas que passam a vida inteira convivendo pacificamente (ou não) com o seus medos, traumas, limites. Não sei porque essa minha mania de querer ficar me superando se eu não tenho que provar nada para ninguém, nem para mim mesma. Que mérito há em ser uma pessoa solitária? Nenhum, mas eu estou buscando isso. Essa idéia ainda está meio confusa na minha cabeça. Acho que isso não se trata apenas de decisão, talvez muitos fatores do meu cotidiano estejam me levando à isso. Mas às vezes parece que tudo está como sempre esteve, que não há mudança nos fatores externos e que a única coisa que mudou fui eu. Isso reflete na minha visão das coisas externas, me fazendo pensar que são elas que estão mudando - mas não são.
As mesmas palavras e as mesmas pessoas que antes me preenchiam, que me bastavam e que faziam com que eu me considerasse uma pessoa feliz, hoje em dia são vazias. Tão vazias como se não existissem. É aí que eu gostaria de chegar. Na mais profunda das solidões. Tão profunda que faz parecer real a tal alucinação que eu tive. Não acreditar nas pessoas provoca o mesmo efeito existencial que provocaria se elas não existissem. Às vezes eu tento e eu realmente quero sair dessa constante crise sociofóbica que eu entrei, mas quanto mais eu tento me aproximar novamente das pessoas mais motivos eu encontro para afastá-las de mim.
Tem sido um sentimento muito paradoxal, no qual eu penso que as pessoas são extremamentes desnecessárias, que os humanos são essencialmente individualistas, mas não é isso que eu vejo. Eu vejo que as pessoas que se dão bem com a família estão felizes, os casais bonitinhos de namorados que brincam de supor a eternidade juntos estão felizes, as melhores amigas de infância estão felizes, os irmãos amigos estão felizes... Até hoje não vi uma pessoa que seja só e feliz. Por que eu tenho que ir de encontro a isso? Talvez porque eu não estou exatamente buscando a felicidade. Eu nem sei ao certo o que eu estou buscando, mas isso que eu busco está na solidão. Por mais que eu não queira, por mais que eu tente fugir disso e por mais que eu tente manter a afeição pelas poucas pessoas que eu ainda sinto, isso tudo está me consumindo aos poucos. Tão aos poucos, que essas pessoas da minha convivência nem perceberam ainda. E não estou escrevendo aqui para que percebam. Isso não é um pedido de ajuda, é só uma necessidade de externar algo e eu só sei fazer isso escrevendo.
Eu diria que isso tem um pouco de sadismo também. Eu gosto, às vezes, de sentir essa dor pertinente da solidão. Gosto mais ainda quando ela não dói. Os momentos que eu tenho passado sentada na janela olhando o pôr-do-sol e escutando música, que eu fico meditando no meu quarto, lendo Fernando Pessoa ou andando só por aí, têm valido muito mais do que uma noite rodeada de pessoas que eu denomino de amigos e que antes eram tudo de importante que eu tinha na minha vida.
Todos esses sentimentos relacionados à pessoas tem me parecido tão anti-naturais... Eu não digo o amor, porque o amor é uma coisa muito além até mesmo da humanidade. Eu digo essas coisas, tipo a amizade. De onde vem esse sentimento teoricamente mútuo em que duas ou mais pessoas aleatórias começam a se identificar ao ponto de criar laços emocionais? Isso não tem feito muito sentido para mim. Não mais. Não saberia definir exatamente o que é a amizade porque eu tenho começado a achar que ela não existe. Eu posso mudar de idéia amanhã mesmo e depois de amanhã voltar a tê-la, mas hoje, agora, nessa madrugada, eu penso que a amizade é um sentimento tão sincero quanto a vassalagem. Ou seja, não é um sentimento. É só uma necessidade humana irracional de companheirismo e de troca de alguma coisa.
Algo me diz que no futuro, por alguma razão, eu vou me arrepender um pouco dessa fase que eu estou passando, mas esse mesmo algo também diz que ela é necessária e que se eu não passasse por isso, minha vida não terminaria completa.